quinta-feira, 5 de maio de 2011

passageira em transe






















Não entendo os ciclos que se acabam, e não à toa me perco. Que faz sentido, faz, estava sem rumo quando nos conhecemos
e no escuro sem tê-la agora.
A encontrei girando no meio da praça, seus gestos leves. Sorriu pra mim e reparei nos olhos cansados e espontâneos
a pele queimada, os seios que despontavam.
Não dissemos nada, e ela me seguiu, sem quebrar o silêncio confortável e raro.
Foi coletando flores pelo caminho, prendendo-as aos cabelos, dançando e ziguezagueando pela calçada.
Desatou a falar e me contar, enquanto estalava meus dedos e os dela,
que tinha fugido da casa dos tios severos,
porque queria experimentar ficar sozinha por aí.
Mas que há dois dias dormia na praça onde a encontrei e tinha fome.
Leve a menina-fada para casa, pela mão, trançada com a minha
e dormimos ambos.
Sonhei com coisas efêmeras, bolhas, dizeres, espirais.
A menina recitava poemas pela manhã,
calava-se a tarde e desenhava, o traço solto, e ignoramos todo o resto, ao redor.
Fechava os olhos e cantava, e nos amávamos infinitos e separados de qualquer outra coisa.
Eu a levava e ela a mim, devorávamos ferozmente tudo o que vinha,
tudo que ia. Uns aos outros.
Entrávamos num transe incerto, nos mistérios alheios, próprios
e pairávamos em dúvida, mas plenos.
Ainda agora, não sou capaz de dizer o tempo que passou a menina-fada comigo
enfeitiçado, desesperado por ela e incompleto quando partiu. Continuo.
Sinto seu espírito feérico e espontâneo, e o cheiro dos jasmins no cabelo
cercarem-me com afeto.
A magia singular da efêmera menina-fada que eu amei.

Laura.

Um comentário: