segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Pobreminhas de mulher (maravilha)

(mini conto, por Laura Fraiz)

Era mais um dia pacato na pacata cidadela de São Paulo: os moradores andavam felizes e sorridentes pelas ruelas organizadas, belas e cheirosas de sua amada Sampa,
quando o GIGANTE, MAL CHEIROSO e MEDONHO GUINIS, filho de Winis, o fabricante de rodas, começa a atrapalhar a paz da cidade e a espalhar caos e terror por entre os jardins bem cuidados da mesma.
Arranca flores, destrói parquinhos de inocentes crianças, cutuca o nariz e joga as cacotas verde-musgo em velhinhas tricotando, entre outras muitas bárbaras barbaridades!
Oh, quem poderia acudir os cidadãos tão bem intencionados de nossa idolatrada cidade?
E é quando todos menos esperam, que nossa pomposa super-heroína surge, bela como uma camela, esbanjando purpurinísse e elegância, para SALVAR O DIA!
"Ohhhh, a MULHER MARAVILHA!", vibra a população encantada (reles mortais).
Ela então golpeia Guinis, com sua letal colher de pau, na fuça e nas bochechas rosadas! Mas OH! Agora é a aparentemente invencível Mulher Maravilha que fica com cara de rosbife malpassado!
Parece que nem toda sua maravilhosa maravilha consegue driblar as funções biológicas da fêmea mamífera.
Nossa venerável heroína abandona a batalha e retorna fulminantemente aos seus aposentos, para dar conta do estrago causado em suas nobres vestes felpudas, deixando Guinis, e a população, chocados com seu repentino e inesperado sumiço.
FIM.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Escolhas

Decidi fazer tirinhas com os episódios da nossa vida cotidiana.  A realidade é muito mais engraçada do que a ficção.  Nesta primeira tirinha, Soledad se debate entre a amizade e a propriedade.  E traduzindo, Badeu é como ela decidiu chamar o amigo Tadeu, filho do meu querido camarada Eder Camargo.  Enjoy it.

(clique pra ampliar, se for necessário)




domingo, 6 de fevereiro de 2011

destilado um

um suspiro no nada
paro e procuro.
três pedras pretas
opacas.
cortina caída
um lenço florido largo.
passos.
a ululante preocupação de mamãe
restos de café na caneca
frutas caramelizadas.
um nada que se espanta
e se agarra...
eu não entendo esse nada
eu só quero você.




 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Laura.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Mamãe, quero ser uma lixeira!

Levando a Soledad na escola, paramos no sinal vermelho justo atrás do caminhão de lixo.  Aborreci e bufei imediatamente pela desgraça alcançada, cedo de manhã.  Sole ficou radiante e feliz, pois o caminhão era verde maçã, e os lixeiros estavam em plena ação, pegando um monte de sacos e caixas do chão.  O sinal abriu e decidimos não ultrapassar, pra ficar olhando o trabalho dos caras.  Eles riam, enquanto carregavam os pesados fardos de sujeira.  Então o monstro abriu a boca e mastigou tudo, abriu a boca novamente e pediu mais.  Altas emoções dentro do carro, ao ver todo esse lixo sendo engolido com tanta fome. 
Sinal abriu, entramos na avenida novamente e eu escuto:
Mamãe, eu quero ser forte como eles, me vestir de laranja como eles.  Quando crescer, eu quero ser lixeira!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Fazer das tripas coração

Quando estamos no meio de uma briga, que vira um ataque de risadas, que faz a gente cair no chão numa mistura de alegria, raiva e cumplicidade, a gente sempre fala que devia ter uma câmera gravando tudo isso.  E começamos imaginar inclusive a cara de pessoas específicas do nosso entorno, ouvindo as barbaridades que saem das nossas mentes pitorescas.  Aqui em casa o ritmo é intenso.  Conviver três mulheres de três gerações diferentes pode ser uma tarefa extravagante, para usar um adjetivo qualquer; porque na verdade, nós podemos ser tudo, ou quase tudo, em apenas uma tarde.
Finalmente decidimos nos jogar na rede.  Só para escolher o design e definir o título da primeira postagem houve umas 3 brigas, 18 bufadas, 9 viradas de olho e um arranhão no braço.  Na hora de apertar o botão "publicar postagem" falei pra Laura, 'te amo', e ela me respondeu, 'Hoje você fez coisas que vão ficar guardadas para sempre na minha pasta Raiva'.
Vai vendo, pessoal.

Mas...que tripas são essas?



(Illo: Laura Fraiz)

Minha mãe é uma coisa incompleta, indefinida,
uma mulher mutante: sempre se redescobrindo
e se transformando.
Aos poucos tenho entendido como me adaptar a essa mãe inadaptável, louca e intensa.
Nós somos irritantemente parecidas e surpreendentemente diferentes.
Os mesmos olhos expressivos e sobrancelhas grossas,
a mesma impaciência e o mesmo senso de humor
(rimos muito juntas quase todo o tempo).
Somos amigas, parceiras, confidentes e insuportáveis uma com a outra.
Um dia, tentando escrever alguma coisa sobre ela,
anotei no meu caderno:

nós duas
um, dois
não um mais um:
é a continuação.

Acho que isso resume tudo.




Laura, foi gerada num campo de morangos no norte da Inglaterra. Beatles.
Para complementar a moranguice da sua essência,  desenvolveu uma compulsão por chocolate num grau, que eu tive que desenvolver a habilidade de escondê-los.
Ela descobre todos os esconderijos. 
Muitas vezes deixa a embalagem vazia no lugar do crime, em vez de jogar fora.  Acho detestável, sobre tudo quando argumenta: “mas mãe, eu não tenho controle sobre isso”. 

Laura cresceu entre adultos, coisa que causou efeitos incríveis na sua personalidade.
Quando criança, tinha tanta compaixão por animais, que não permitia que matasse seus próprios piolhos, e ficou muito chateada quando arranquei o bicho-do-pé que pegou na Bahia.
Com a idade, tem se tornado mais cruel, e calcina pernilongos com a raquete elétrica.
Tem a sorte de ser bela, inteligente e bizarra, tudo ao mesmo tempo.